No Cruzeiro, a família Silva é sinônimo de carnaval animado. Foi por iniciativa do patriarca, Francisco de Assis Silva, o Chico Bombeiro, que nasceu a Aruc. O fundador já morreu, mas a matriarca do clã continua à frente de filhos, netos e bisnetos para garantir o sucesso da folia
Por Lucas Tolentino, do Correio Braziliense, 4/02/2012.
Dona Cecília entre os familiares: "Se eu sarar dos meus pés, ainda vou sair pelo menos mais uma vez" |
Os Silvas se formaram, cresceram e envelheceram ao som dos tamborins. Basta um dia de folga, com sol ou chuva, para que a árvore ao lado da casa da família vire uma quadra de samba com direito a bateria, cantores e passistas. Não tem fim de semana em que a área verde da Quadra 8 do Cruzeiro Velho não se encha de parentes dispostos a celebrar as felicidades e tristezas da vida, como se estivessem na avenida. “Está no sangue. Puxamos essa bagunça do meu pai”, dispara Fernando de Assis, 60 anos, o filho mais velho.
A paixão pelos pandeiros surgiu com o patriarca Francisco de Assis da Silva, o Chico Bombeiro. Ele passou a infância e a adolescência no Rio de Janeiro. Quando se mudou para a nova capital do país, no fim da década de 1950, amadureceu com os amigos a ideia de criar uma agremiação nos melhores moldes cariocas. E assim surgiu a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc).
O amor que Chico tinha pelos acordes do tarol e do pandeiro contagiou três gerações. O patriarca se foi em 1995, mas deixou para todos a lição de que o samba não pode morrer. “A gente faz carnaval todo dia. Quando não estamos brigando, estamos em festa”, descreve Fernando, o primogênito, que herdou o apelido do pai. “É a melhor maneira de encarar a vida”, emenda o irmão Júlio César, 45 anos, o Mestre Boca, do repique.
Atualmente, a matriarca, Cecília Lopes da Silva, os sete filhos, os 14 netos e os cinco bisnetos têm orgulho de carregar nas lembranças e no presente os bons momentos proporcionados pela magia do carnaval. Aos 82 anos, Dona Cecília, que em breve será tataravó, prefere não se arriscar na Ala das Baianas, como fez incontáveis vezes nas passarelas candangas. “Sinto falta de tudo aquilo. Se eu sarar dos meus pés, ainda vou sair pelo menos mais uma vez na avenida”, planeja, sentada em frente à casa onde viu a vida passar como em um bloco de carnaval.
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