quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O primeiro carnaval


Crônica publicada no Blog da Conceição
Terça-feira, 17 de fevereiro de 2015 04:06 pm

No primeiro carnaval de Brasília, Juscelino já não estava mais aqui. Era fevereiro de 1961, Jânio Quadros havia tomado posse um mês antes. O deputado Paulo de Tarso assumia a Prefeitura do Distrito Federal, por indicação do presidente da República, como determinava a lei. Paulo de Tarso era um Rollemberg dos anos 1960.

“A cidade que aqui se construiu — disse, no discurso de posse — não oferece muito aos que chegam, além da visão plástica e de uma efetiva afirmação de nossa capacidade realizadora.”. Bonita, mas incipiente.

Mas os motivos não eram os de agora. O prefeito anterior, Israel Pinheiro, o homem de ferro da construção da capital, não tinha tido tempo para transformar um projeto construído numa cidade efetiva. “Em todos os setores da vida de Brasília, alinham-se dificuldades que não puderam ser vencidas pelo esforço titânico dos que a construíram”, compreendia Paulo de Tarso.

O novo prefeito denunciava: “Metade dos habitantes de Brasília vive, nas favelas, a sua miséria. Sem transporte, sem escolas, sem facilidades de abastecimento e desassistidos pelo poder público”. O mais recente censo do IBGE, de maio de 1959, havia contado 64 mil moradores na nova capital. Mas acusava um crescimento mensal de 2,5 mil habitantes. Por baixo, em fevereiro de 1961, 100 mil almas viviam na cidade.

Brasília nem havia completado 1 ano e já estava contaminada pela corrupção. Inquérito na subprefeitura de Taguatinga indiciou 97 servidores acusados de receber propina e vender lotes irregularmente. Foram demitidos. Uma comissão foi designada para investigar irregularidades na administração do Gama.

Paulo de Tarso pediu à Delegacia de Trânsito a lista dos carros oficiais da cidade e determinou que eles só fossem utilizados em dias úteis e nos horários de expediente.

As ocorrências policiais de maior gravidade, naquele carnaval de 1961, foram brigas entre operários em acampamentos de empreiteiras que mantinham obras em Brasília — não por muito tempo, porque Jânio Quadros paralisaria as construções na nova capital. Um casal foi preso praticando atos obscenos nas proximidades da Imprensa Nacional, em via pública e durante o dia.

O caso de maior gravidade foi a morte do linotipista José Leonilo Julger. A lambreta que conduzia foi atingida por um ônibus. (Linotipista era o sujeito que operava o linotipo, a máquina que fundia caracteres tipográficos, como uma máquina de escrever, para impressão em papel).

E a folia? A primeira temporada carnavalesca da nova capital começou com um grito de carnaval na Rodoviária do Plano. Dias depois, os salões do restaurante da Rodô abriram-se para a escolha da primeira Rainha do Carnaval de Brasília. A bela cantora Miriam Marques venceu o “renhidíssimo pleito”, como noticiou este Correio.

“Para maior êxito da festa, a Associação dos Cronistas Carnavalescos resolveu liberar a entrada de damas”, informava o jornal. Desde que passassem por uma “seleção” para ter acesso às dependências do restaurante da Rodoviária. A medida, explicavam os organizadores, “visa a dar maior brilho à coroação de S. Majestade Rainha do Carnaval, como ao baile em si”.

A cidade moderna carnavalizava, desde cedo, a segregação social.

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