domingo, 2 de março de 2014

Como eram gostosos nossos bailes

Assim como os candangos, o carnaval desembarcou em Brasília ainda antes da inauguração. Na década da 1960, a festa se instalou e floresceu

» DIEGO PONCE DE LEON
» GABRIEL DE SÁ
Publicação: 01/03/2014 04:00

 (Arquivo Público do Distrito Federal/Divulgação)


Fundação da Casa Popular. Era assim chamada a região que hoje compreende as imediações da 713 Sul. Foi lá a primeira residência do adolescente e músico Jesiel Motta, que chegou a Brasília em 1958. Como Jesiel, o carnaval surgiu por aqui ainda antes da inauguração. “E com uma bela diferença: ninguém tinha condições de viajar. Por isso, naqueles quatro dias, a cidade ficava lotada.” 

Havia outra diferença. Ninguém conhecia Jesiel. “Nome terrível para um artista. Tive que pensar em uma alternativa, mais artística”. Apesar da escolha nada carnavalesca, Harry Jones e seu conjunto fizeram a alegria da capital. A história da folia em Brasília, nos anos inaugurais, está viva na memória de pessoas como Jesiel, e só a partir de tais causos é possível contá-la nos dias de hoje.

“No meu primeiro ano, cantei nos galpões da Cidade Livre (Núcleo Bandeirante) e no baile do Brasília Palace Hotel”, lembra o cantor, hoje, aos 71 anos. “Nas ruas, a festa era tímida ainda. Mas, nos acampamentos, acontecia uma folia nas cantinas”, conta o pioneiro. “Podem conversar com o Fernando Lopes também. Até onde eu saiba, só sobrou eu e ele”. E assim foi feito. 

O astro Kirk Douglas foi um dos convidados de honra do carnaval brasiliense de 1963  (Henry Ballot/Reprodução)
O astro Kirk Douglas foi um dos convidados de honra do carnaval brasiliense de 1963


O cantor Fernando Lopes veio de Piracanjuba (GO), em 1959, para ser o primeiro artista contratado da Rádio Nacional de Brasília. No ano seguinte, viu o primeiro carnaval “oficial” acontecer na cidade, ainda não inaugurada. “Foi no Núcleo Bandeirante. Tinha uma tenda de circo montada e fizemos a festa ali”, recorda-se. A folia, uma iniciativa da Novacap, reuniu candangos e engenheiros e foi transmitida pelo rádio.
“Eu cantei várias canções, a maioria marchinhas”, diz Fernando, hoje aos 81 anos. A música ficou por conta do conjunto da Polícia Militar, regida pelo maestro Deodato, e clássicos como Nós, os carecas, Garota bossa nova e Mamãe, eu quero deram as caras. 

A americana Rita Hayworth, a eterna Gilda, passou pela festa de Brasília em 1962  (Arquivo Público do Distrito Federal/Divulgação)
A americana Rita Hayworth, a eterna Gilda, passou pela festa de Brasília em 1962


Festejos 

Depois da inauguração da festividade, o cantor lembra-se de ter participado de bailes no Hotel Nacional e de ter assistido a desfiles para escolher as rainhas do carnaval no Ginásio Nilson Nelson.

Uma das tais rainhas foi Miriam Marques, candidata da Rádio Nacional que, em 1961, saiu vencedora do certame. Foi o primeiro concurso ocorrido em Brasília, organizado pela “entidade dos jornalistas”, segundo noticiou o Correio Braziliense em 10 de fevereiro daquele ano. “Amanhã, em carro aberto, precedida por clarins e fogos de artifício, a rainha desfilará pelas ruas da cidade, percorrendo as principais artérias da nova 
capital e seguindo para a Estação Rodoviária, onde será coroada pelo prefeito Paulo de Tarso”, dizia o texto.

Em 1962, a escola de samba Alvorada em Ritmo foi escolhida a melhor de Brasília após desfile de cinco conjuntos carnavalescos pelas avenidas ainda empoeiradas da cidade. A agremiação seria destaque também em 1963 e 1964. Nos anos seguintes, de 1965 a 1969, só deu a Unidos do Cruzeiro. A escola, conhecida posteriormente como Aruc, é a mais tradicional e a maior vencedora dos carnavais da cidade. 

 (Arquivo CB/CB/D.A Press)


Wellington Vareta conhece bem essa história. Desde que chegou ao Cruzeiro, em 1961, ele acompanha a trajetória da agremiação. “Seguia de longe. Era uma criança ainda. Meu primeiro contato com o samba mesmo foi em 1965”, recorda.

E a lembrança da estreia definitiva no samba emociona o veterano cruzeirense: “Participei de um ensaio de bateria sem avisar meu pai. Em casa, apanhei. Ele me disse: ‘Não estou te batendo por ter ido ao samba, mas por não ter me falado’. Nunca mais larguei o carnaval. Foi a melhor surra da minha vida.” 

Wellington Vareta: na Aruc desde criança (Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press)
Wellington Vareta: na Aruc desde criança



100 mil cruzeiros 
Prêmio recebido pela Alvorada em Ritmo, primeira vencedora dos desfiles de Brasília 


31  
Número de campeonatos vencidos pela Aruc

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