quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Política domina o carnaval de Brasília

A decisão de manter o desfile das Escolas de Samba do Distrito Federal na Ceilândia é um grave erro conceitual por parte do GDF, que repete o erro das gestões passadas, quando em 2005, tiraram esta transferência da cartola, com claros motivos eleitoreiros.
O carnaval é uma festa tradicionalmente realizada no centro da cidade, onde há fácil acesso, devido à proximidade com a Rodoviária e a estação central do Metrô, além de estacionamento amplo com o Parque da Cidade e o Estádio Mané Garrincha. Em todas as grandes cidades onde o carnaval é uma festa de apelo, sua realização ocorre nas regiões centrais.
Cobra-se muito o crescimento do carnaval de Brasília, mas como isto será possível se há sete anos seu principal evento, o desfile das escolas de samba, é realizado em uma região com difícil acesso para quem vem de diferentes regiões do Distrito Federal?

As dificuldades são tamanhas tanto quanto à infraestrutura, seja com o transporte dos carros alegóricos por dezenas de quilômetros, seja com o próprio Ceilámbódromo, que em sete anos nunca conseguiu atender a contento as necessidades para um desfile adequado. Quem desfila sabe pelo que já se passou. Os problemas com lama na passarela, falta de estacionamento, péssima iluminação. Como um desfile pode ser realizado com estas condições?

Dizer que na Ceilândia há mais público do que no Plano Piloto é outra falácia. Primeiro que o povo de Sobradinho, do Cruzeiro, do Gama, de Planaltina não é menos povo que o de Ceilândia. A dificuldade para muitas cidades em se deslocar para lá é grande e isto torna um carnaval que é do Distrito Federal como o carnaval somente de uma cidade.

E segundo, mas não menos importante: o carnaval no Plano Piloto, ao longo de mais de quarenta anos foi uma tradição que se consolidou e há provas que mostram o sucesso de público ao longo dos anos. Argumentar que o desfile estava se esvaziando é omitir os fatos: foi em 2003 que não tivemos desfile das escolas de samba, mas apenas de blocos. Naquele ano específico o público foi pequeno sim. Em 2004 as escolas de samba retornaram e já em 2005 o desfile foi para Ceilândia.
Desfile no Caldeirão da Folia com arquibancadas cheias - 1997.
Vamos às provas. Vejam o público lotando as arquibancadas no Caldeirão da Folia em 1997 na foto acima. E mais ainda. Constatem no destaque a ilustre presença, com a camisa da ARUC. Uma testemunha ocular do sucesso que era o desfile no centro da cidade, o governador Agnelo Queiroz.
Detalhe da foto anterior: o atual governador Agnelo Queiroz desfila pela ARUC e vê a arquibancada lotada.
Por outro lado, o desfile na Ceilândia sempre foi um sucesso de público? Não é bem assim. Naturalmente o público local prestigiaria a escola da casa, mas não foram poucas as vezes em que escolas de samba desfilaram para uma minguada platéia. E não falamos de pequenas escolas do grupo de acesso. A ARUC, maior vencedora de nosso carnaval, já desfilou para pouquíssimas pessoas em várias oportunidades no Ceilambódromo e as fotos estão aí para mostrar.
Desfile na Ceilândia, 2006. Pouco público acompanhando.
Arquibancadas vazias. Desfile na Ceilândia, 2006.

Público para uma escola de samba apenas? E as outras? E o povo das outras cidades? O que justifica isso? Há muitos argumentos repetidos várias vezes que não se sustentam. Há de se respeitar a tradição do carnaval brasiliense, que se não é um grande carnaval, comparável a outras cidades, não é porque não deixam. O carnaval de Brasília precisa é de visibilidade e apoio real, e não que seja usado de maneira oportunista.

Dizer que o desfile no Plano Piloto não tinha público e na Ceilândia atrai mais de 60 mil pessoas por noite é uma mentira que não se sustenta diante das fotos aqui apresentadas. Basta uma pesquisa nos arquivos dos jornais locais para comprovar que falta de público nunca foi problema pra o Carnaval de Brasília. Seja na W3, nas décadas de 60/70; seja no Eixão, na décadas de 80/90; seja no Caldeirão da Folia, atrás da Torre de TV, no final da década de 90 e começo dos anos 2.000. Repetir uma mentira insistentemente para que ela vire uma verdade é, como se sabe, uma conhecida tática da propaganda nazista.

Um comentário:

  1. Concordo com a volta para o Plano e parei de "subir a Estrutural pra brincar o carnaval" porque o Ceilambódromo realmente não tem infraestrutura para dar um pouco de conforto às pessoas que assistem ao desfile. Se a W3 era o mais animado, o Caldeirão era onde tinhamos a melhor estrutura para o público (estacionamento, calçadas, transporte para todas as cidades, área asfaltada para concentração e dispersão.
    Se uma maioria de 15 a 4 entre as escolas de samba não é critério válido, então qual o critério usado? Porque a quantidade de público já foi devidamente respondida pela postagem acima.

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