sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Candidato ao título no Japão, o Santos tem seis jogadores nascidos no DF

Por Marcos Paulo Lima - Correio Braziliense, 9/12/2011.


Conheça Douglas Abner, o brasiliense que sonhava ser perito e virou menino da Vila

O quadradão da Quadra 8 do Cruzeiro Velho era o “estádio predileto” para a relação de amor com a sua melhor amiga: a bola. No entanto, o sonho profissional era outro. Quando ouvia a velha pergunta “o que você quer ser quando crescer”, o brasiliense Douglas Abner Almeida dos Santos não pensava duas vezes. “Perito criminal”, riu. Viciado na minissérie norte-americana CSI, Douglas Abner poderia ter feito concurso público, mas o seu destino estava escrito no último sobrenome impresso na certidão de nascimento do garoto nascido em 30 de janeiro de 1996: Santos. Só faltou o Futebol Clube…

Aos 15 anos, Douglas Abner — como estava escrito na camisa oficial usada para as fotos — é uma das seis promessas brasilienses das categorias de base do Santos. Celeiro de príncipes como Robinho e Neymar, e de um rei, Pelé, o Peixe continua a sua incansável procura por joias preciosas. Douglas é uma delas. De férias em Brasília, o garoto conta os dias para torcer pelo Santos na semifinal do Mundial de Clubes, contra o Monterrey, do México, ou o Kashiwa Reysol, do Japão. Enquanto o dia de ver os ídolos Neymar e Ganso em ação não chega, Douglas conta como está sendo lapidado no litoral paulista.

“A minha vida é corrida. Para treinar no Santos é obrigatório estudar. Estou no segundo ano do ensino médio. De manhã, vou para a aula. À tarde, treino forte. De noite, quanto não estou no curso de inglês oferecido pelo Santos, vou à Igreja Batista com a minha mãe”, conta o evangélico.

Dona Mirian é a mãe coruja. Enquanto o marido, Douglas, trabalhava como vigilante, ela trabalhava duro para ver o filho jogando futebol. “Vendi muita rifa, bingo e espetinho para pagar a mensalidade da escolinha do Santos aqui em Brasília e as viagens do Douglas Abner para as competições. Eu bancava a minha e a dele”, lembra. Para chegar ao Peixe, o filho foi submetido, aos 13 anos, a duas peneiras. “A primeira aqui em Brasília. Passei e fui para a segunda, bem mais difícil, com moleques do Brasil inteiro. Dos garotos da minha idade, só dois foram aprovados e eu estou lá até hoje”, comemora Douglas Abner.

Autônoma, a mãe largou a vida no Cruzeiro Velho e embarcou na aventura do menino que decidiu ser perito, sim, mas na arte de fazer gol. “Sou atacante, homem de referência. Eu jogo de costas para o gol”, define-se a promessa. Douglas Abner já tem até apelido de craque internacional em Santos. “Eles me chamam de Drogba (ídolo do inglês Chelsea e da Costa do Marfim) por causa da minha força física”, explica. “Lá em Santos é Didier para cá, Didier para lá, mas levo numa boa.”

Apesar da comparação, o ídolo de infância de Douglas Abner foi eleito duas vezes melhor do mundo e veste a camisa 10 do Flamengo. “Quando eu era criança, vi o auge do Ronaldinho Gaúcho no Barcelona e na Seleção Brasileira. O meu cabelo é assim (rastafari) por causa dele”, explica.

Copa do Brasil
Matador, Douglas Abner ajudou o Santos a conquistar, em julho, a Copa Brasil Sub-15. O Brasileirão da categoria teve como sedes as cidades de Arapongas e Apucarana, no Paraná, e o Peixe conquistou o título com uma goleada por 3 x 0 sobre o arquirrival, São Paulo. Douglas Abner marcou três gols na campanha com vitórias sobre Cruzeiro, PSTC, Coritiba, Atlético-MG, Flamengo e Grêmio e foi o vice-artilheiro do Santos, atrás apenas de Gabriel Barbosa, autor de sete.

Convocação
Em outubro, Douglas Abner foi chamado pelo técnico da Seleção Brasileira Sub-15, Marquinhos Santos, para um período de treinos na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), nos preparativos para o Campeonato Sul-Americano da categoria. Novato em grupo praticamente fechado, o brasiliense não participou do torneio no Uruguai porque o treinador preferiu manter a base do elenco que já tinha conquistado o título de uma competição amistosa anterior, disputada na Venezuela.

Promessa treinou contra Neymar e Ganso
Fã de Ronaldinho Gaúcho, Douglas Abner conheceu Neymar e Paulo Henrique Ganso justamente por causa do ídolo rubro-negro. “Em julho, o Santos estava treinando para enfrentar o Flamengo pelo Brasileirão e o Muricy (Ramalho) chamou alguns jogadores do Sub-15 para participar do trabalho. Eu fui um deles”, comemora o brasiliense, com os olhos brilhando. “Foi na véspera da estreia do Ibson, lembro muito bem disso”, acrescentou.

A proximidade dos ídolos proporcionou momentos de tietagem. Dona Mirian e seu Douglas arquivam em um álbum tradicional e em um tablet fotos do filho ao lado de Neymar e do Rei Pelé. “O Neymar é muito gente boa, e o Pelé, então, nem se fala. O conselho deles dois para mim foi para eu não desanimar nunca e para eu continuar jogando o meu futebol”, conta.

Aos 15 anos, Douglas já fez até uma pontinha como “ator”. Ele é um dos personagens do filme do centenário do clube, que será lançado em 2012. A promessa vai aparecer ao lado de outros meninos da fábrica de talentos da Vila.

Parceria com os conterrâneos
Douglas Abner disputou torneios na Aruc, no Cruzeiro Velho, e disputou até a tradicional Copa Agap antes de partir rumo a Santos. A coleção de medalhas e troféus começou na unidade brasiliense da escolinha do Peixe. Lá, conheceu um dos seus melhores amigos, o conterrâneo Leonardo Carvalho. “Ele joga comigo no infantil. Ele é lateral-esquerdo e muito bom de bola. Jogamos juntos desde os 9 anos.”

Além de Douglas e Leonardo, outras quatro promessas jogam nas divisões de base do Peixe (ler arte). Na edição de ontem, o Correio mostrou que o também brasiliense Felipe Anderson, de 18 anos, é o caçula dos profissionais convocados pelo técnico Muricy Ramalho para o Mundial de Clubes da Fifa e pode ser o quinto jogador nascido no Distrito Federal a conquistar o título. Os outros foram Augusto, pelo Corinthians (2000), Amoroso, com a camisa do São Paulo (2005), Kaká, em defesa do Milan (2007) e Lúcio, vencedor na Inter (2010).

“Lá no Santos eles ficam impressionados com Brasília. O comentário é que aqui é um celeiro de craques mesmo sem clubes de ponta”, testemunha Douglas Abner. Consciente da dificuldade de sair da cidade para brilhar em um grande centro, o garoto surpreendeu ao fim da entrevista. “Eu quero deixar um recado para quem pensa em ser jogador. Não é porque nós não temos times grandes aqui na cidade que o nosso sonho é impossível. É difícil dizer isso, mas é preciso ser persistente como os meus pais e eu somos”, aconselha o jogador, que já tem a sua próxima meta estabelecida. “Quero ser promovido ao time profissional com no máximo 17 anos. Hoje, esse é o meu maior objetivo.”

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