Em 1996 fui convidado pelo administrador do Cruzeiro, Helio Lopes, para coordenar o Temporadas Populares na área de samba no Cruzeiro. Eu tinha que manter contato com vários sambistas da linha tradicional para virem se apresentar na ARUC. O desafio era grande, porque, como o nome já diz, era popular, e nós não tínhamos atrações para todos os finais de semanas.
Foi então que sugeri ao Helio Lopes que convidássemos sambistas que não estavam em evidência, mas que poderiam atrair um bom público. Tive a idéia para o show de Jamelão. Mantive contato com Jorge Aragão para obter maiores informações e tive boas referências do show, e fui alertado que ele era de temperamento difícil, muito fechado e que não gostava de ser chamado de puxador, e sim de intérprete.
No dia do show tivemos uma entrevista coletiva no quiosque da ARUC e alertei ao pessoal da imprensa presente sobre as limitações de entrevista. E a repórter de uma emissora fez justamente a pergunta que não era para ser feita: “Como ele se achava sendo o maior puxador de samba do Brasil?”
Eu não sabia onde me esconder, mas ele foi elegante na resposta e eu me salvei de um grande constrangimento. Aproveitei a oportunidade para pedir uma música que era “Matriz ou Filial”, que me trazia recordações da minha infância, pois essa música era sempre cantada por minha irmã Marly.
Ele ainda chegou para mim e perguntou: “Você gosta dessa música, meu filho?” e respondi a ele: “É uma das minhas favoritas”, no que ele devolveu: “Então, tá bom. Eu vou cantar.”
O show do Jamelão foi o maior show realizado dentro do galpão da ARUC, com 2.200 ingressos vendidos e 400 cortesias. Ele cantou por duas horas, sem que ninguém saísse da quadra. Falo para as pessoas que esta foi uma das maiores vitórias que tive na ARUC, pois não tinha a dimensão do que poderia acontecer, uma vez que ele tinha um público voltado para a velha guarda, e que agradou também aos mais jovens que compareceram naquela noite.
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