Foto de Rafael Ohana (CB/D.A.Press)
Os primeiros moradores do Cruzeiro tiveram uma recepção inusitada ao chegar à cidade. Em 1959, cobras, papagaios, veados e gaviões circulavam tranquilamente pelas ruas e misturavam-se aos habitantes pioneiros daquela região. A vegetação, até então vasta e virgem, aumentava o sentimento de estar em meio à natureza selvagem. Esses e outros relatos fazem parte do livro Cruzeiro, retratos de sua história. A publicação organizada pelo historiador (e morador da cidade) Rafael Fernandes de Souza, 33 anos, brinda o Cruzeiro em seu 51º aniversário, comemorado hoje.
No livro, Rafael reuniu informações coletadas durante estudos acadêmicos (graduação em história na Universidade de Brasília e especialização), entre 2000 e 2009. “Eu senti dificuldade em encontrar material escrito que contasse a história do Cruzeiro. Por isso, nasceu a ideia de fazer o livro”, explicou o historiador, que mora na cidade desde que nasceu. Os exemplares foram confeccionados com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), do governo local, e distribuídos em escolas públicas, além de estarem disponíveis na Biblioteca do Cruzeiro.
O autor ouviu personagens importantes, que ajudaram a escrever a trajetória da cidade junto da própria história de vida. Gente como a enfermeira aposentada Ivone de Araújo Eduardo, 79 anos, carioca e conhecida como a primeira moradora do Cruzeiro. Ela veio para a cidade, em 1959, ao lado do marido, em busca de trabalho. É de dona Ivone o relato sobre os animais que corriam soltos nas ruas do Cruzeiro. “Também havia índios na região. Eles eram educados. Até hoje alguns vêm à minha casa”, relatou.
Ela foi a primeira moradora de um bloco de 10 casas construído para abrigar funcionários públicos vindos de outras regiões, como o marido de Ivone. “Fiquei com a terceira casa do bloco e recebi todas as famílias que vinham. Eu entreguei as chaves de cada uma”, lembrou. Ivone fundou a ala das baianas da primeira escola de samba de Brasília, a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), e o primeiro posto de saúde da cidade.
Batismo
À época, o Cruzeiro era conhecido como Cemitério. O apelido surgiu porque ali havia pequenas casas brancas em meio à poeira avermelhada. O local passou a ser chamado, pouco depois, de Gavião, devido à grande quantidade de exemplares desse pássaro concentrados ali. Em seus estudos, Rafael descobriu que o nome Cruzeiro foi sugerido por uma associação de moradores, com ajuda do Correio Braziliense — inaugurado no mesmo dia que Brasília. A proximidade com o cruzeiro onde foi rezada a primeira missa da capital motivou esse batismo, explica Rafael em seu livro.
Assim como muitos pioneiros, os pais de Rafael vieram do Rio de Janeiro para a região. O autor do livro é testemunha das evoluções pelas quais a cidade passou. Atualmente, por exemplo, a região é 100% asfaltada. O Cruzeiro é conhecido por ter abrigado, desde a fundação, uma grande comunidade carioca. Responsável, inclusive, por trazer a alegria do samba e do carnaval para Brasília, com a Aruc, apadrinhada pela Portela, e que leva as cores da águia simbólica da tradicional escola do Rio de Janeiro.
No ano passado, a primeira escola de samba da capital foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do DF pelo governo local. Mesmo assim, a Aruc ainda enfrenta dificuldades. O terreno onde ela está localizada, na Área Especial do Cruzeiro Velho, pertence à Secretaria de Esportes. Há quase 50 anos, pesa a insegurança sobre o direito de permanecer ali. Não há garantias legais de que a escola não será despejada. “A gente pensa que não faria sentido mudar a Aruc de lugar, mas gostaria de ter um documento, algo que desse mais segurança”, considerou Rafael, que também é diretor cultural da Aruc.
Outro problema é a liberação de verba para o carnaval. Todo ano, não só a Aruc como as outras escolas de samba da capital têm de esperar até as vésperas do evento para saber de quanto irão dispor para organizar os desfiles. “Assim fica difícil fazer um carnaval grandioso, como o do Rio”, reclamou Rafael.
Cultura
Mas nem só de samba vive o Cruzeiro. Uma curiosidade relatada no livro: a banda Sepultura nasceu ali, em 1977 (não o grupo mineiro, que surgiu nos anos 80). Há ainda grupos de teatro e de dança por toda parte. Entre os mais tradicionais, está o Pellinsky, companhia de dança criada em 1986 pelo coreógrafo e dançarino Andreoni Cabral, à época com 12 anos.
No ano seguinte, como relata Rafael em seu livro, o projeto foi apresentado no Centro Educacional 1, no Ginásio do Cruzeiro. Ainda hoje, o grupo mantém-se em atividades, tendo fundado também uma organização não governamental, com projetos socioeducativos.
A Administração Regional do Cruzeiro preparou uma série de eventos para lembrar o aniversário da cidade. Hoje, um bolo de 51 metros será oferecido à comunidade, no Ginásio do Cruzeiro. Os eventos comemorativos, porém, começaram no início deste mês. A escolha das atrações provocou polêmica. A Aruc ficou de fora. “Comemorar o aniversário do Cruzeiro sem a Aruc é a mesma coisa que festejar o Natal sem Papai Noel e o réveillon sem fogos de artifício”, comparou o presidente da Aruc, Moacyr Oliveira Filho, o Moa, no blog da agremiação.
Os primeiros
Em 1977, uma equipe de som brasiliense chamada Sepultura se transformou n a banda de rock Sepultura. Foi fundada por Eduardo I (guitarras e vocais) e Magu Cartabranca (vocais e efeitos sonoros), que à época tinham 17 anos e baseavam sua música nos estilos de bandas como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. Chegaram a fazer vários shows em Brasília, lançaram dois discos e entraram na Justiça pelo direto de usar o nome Sepultura, que entrou para o rol da fama propriamente dito em 1983, quando o grupo mineiro heavy metal que alcançou projeção internacional se lançou, com a mesma denominação.
PROGRAMAÇÃO
Hoje
Corte do bolo de aniversário.
Hora: 10h.
Local: Ginásio de Esportes do Cruzeiro, Quadra 609, Cruzeiro Novo.
No livro, Rafael reuniu informações coletadas durante estudos acadêmicos (graduação em história na Universidade de Brasília e especialização), entre 2000 e 2009. “Eu senti dificuldade em encontrar material escrito que contasse a história do Cruzeiro. Por isso, nasceu a ideia de fazer o livro”, explicou o historiador, que mora na cidade desde que nasceu. Os exemplares foram confeccionados com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), do governo local, e distribuídos em escolas públicas, além de estarem disponíveis na Biblioteca do Cruzeiro.
O autor ouviu personagens importantes, que ajudaram a escrever a trajetória da cidade junto da própria história de vida. Gente como a enfermeira aposentada Ivone de Araújo Eduardo, 79 anos, carioca e conhecida como a primeira moradora do Cruzeiro. Ela veio para a cidade, em 1959, ao lado do marido, em busca de trabalho. É de dona Ivone o relato sobre os animais que corriam soltos nas ruas do Cruzeiro. “Também havia índios na região. Eles eram educados. Até hoje alguns vêm à minha casa”, relatou.
Ela foi a primeira moradora de um bloco de 10 casas construído para abrigar funcionários públicos vindos de outras regiões, como o marido de Ivone. “Fiquei com a terceira casa do bloco e recebi todas as famílias que vinham. Eu entreguei as chaves de cada uma”, lembrou. Ivone fundou a ala das baianas da primeira escola de samba de Brasília, a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), e o primeiro posto de saúde da cidade.
Batismo
À época, o Cruzeiro era conhecido como Cemitério. O apelido surgiu porque ali havia pequenas casas brancas em meio à poeira avermelhada. O local passou a ser chamado, pouco depois, de Gavião, devido à grande quantidade de exemplares desse pássaro concentrados ali. Em seus estudos, Rafael descobriu que o nome Cruzeiro foi sugerido por uma associação de moradores, com ajuda do Correio Braziliense — inaugurado no mesmo dia que Brasília. A proximidade com o cruzeiro onde foi rezada a primeira missa da capital motivou esse batismo, explica Rafael em seu livro.
Assim como muitos pioneiros, os pais de Rafael vieram do Rio de Janeiro para a região. O autor do livro é testemunha das evoluções pelas quais a cidade passou. Atualmente, por exemplo, a região é 100% asfaltada. O Cruzeiro é conhecido por ter abrigado, desde a fundação, uma grande comunidade carioca. Responsável, inclusive, por trazer a alegria do samba e do carnaval para Brasília, com a Aruc, apadrinhada pela Portela, e que leva as cores da águia simbólica da tradicional escola do Rio de Janeiro.
No ano passado, a primeira escola de samba da capital foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do DF pelo governo local. Mesmo assim, a Aruc ainda enfrenta dificuldades. O terreno onde ela está localizada, na Área Especial do Cruzeiro Velho, pertence à Secretaria de Esportes. Há quase 50 anos, pesa a insegurança sobre o direito de permanecer ali. Não há garantias legais de que a escola não será despejada. “A gente pensa que não faria sentido mudar a Aruc de lugar, mas gostaria de ter um documento, algo que desse mais segurança”, considerou Rafael, que também é diretor cultural da Aruc.
Outro problema é a liberação de verba para o carnaval. Todo ano, não só a Aruc como as outras escolas de samba da capital têm de esperar até as vésperas do evento para saber de quanto irão dispor para organizar os desfiles. “Assim fica difícil fazer um carnaval grandioso, como o do Rio”, reclamou Rafael.
Cultura
Mas nem só de samba vive o Cruzeiro. Uma curiosidade relatada no livro: a banda Sepultura nasceu ali, em 1977 (não o grupo mineiro, que surgiu nos anos 80). Há ainda grupos de teatro e de dança por toda parte. Entre os mais tradicionais, está o Pellinsky, companhia de dança criada em 1986 pelo coreógrafo e dançarino Andreoni Cabral, à época com 12 anos.
No ano seguinte, como relata Rafael em seu livro, o projeto foi apresentado no Centro Educacional 1, no Ginásio do Cruzeiro. Ainda hoje, o grupo mantém-se em atividades, tendo fundado também uma organização não governamental, com projetos socioeducativos.
A Administração Regional do Cruzeiro preparou uma série de eventos para lembrar o aniversário da cidade. Hoje, um bolo de 51 metros será oferecido à comunidade, no Ginásio do Cruzeiro. Os eventos comemorativos, porém, começaram no início deste mês. A escolha das atrações provocou polêmica. A Aruc ficou de fora. “Comemorar o aniversário do Cruzeiro sem a Aruc é a mesma coisa que festejar o Natal sem Papai Noel e o réveillon sem fogos de artifício”, comparou o presidente da Aruc, Moacyr Oliveira Filho, o Moa, no blog da agremiação.
Os primeiros
Em 1977, uma equipe de som brasiliense chamada Sepultura se transformou n a banda de rock Sepultura. Foi fundada por Eduardo I (guitarras e vocais) e Magu Cartabranca (vocais e efeitos sonoros), que à época tinham 17 anos e baseavam sua música nos estilos de bandas como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. Chegaram a fazer vários shows em Brasília, lançaram dois discos e entraram na Justiça pelo direto de usar o nome Sepultura, que entrou para o rol da fama propriamente dito em 1983, quando o grupo mineiro heavy metal que alcançou projeção internacional se lançou, com a mesma denominação.
PROGRAMAÇÃO
Hoje
Corte do bolo de aniversário.
Hora: 10h.
Local: Ginásio de Esportes do Cruzeiro, Quadra 609, Cruzeiro Novo.
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