Enredo 2021

 Quem é maneiro mora no Cruzeiro!

ARUC celebra a sua comunidade.



Criação e pesquisa: Rafael Fernandes de Souza

Colaboração: Cleuber de Oliveira e Simone Oliveira

 APRESENTAÇÃO

Um lema conhecido já dizia...

Quem ama mora no Gama

E eu quis completar como poesia

 

Quem quer cantar, mora no Guará

Quem é legal, mora na Estrutural

Quem é perseverante, mora no Bandeirante

Quem acorda cedinho, mora em Sobradinho


Mas como sou bairrista

Vou falar bem ligeiro

Pois esta é a minha favorita:

Quem é maneiro, mora no Cruzeiro!

II

Quem é maneiro

mora no Cruzeiro

Afinal não há nada igual

Do Cruzeiro Velho à Octogonal

 

E parafraseando Renato Matos

mas um celular é muito pouco

para quem ama como louco

e mora no Cruzeiro Novo.

 

Rafael Fernandes de Souza

JUSTIFICATIVA

         No ano em que completa seus 60 anos, a ARUC fará uma homenagem à sua comunidade: o Cruzeiro. Exaltaremos a cultura e o esporte cruzeirense, fazendo referência aos grupos, entidades e segmentos que construíram a identidade de nosso bairro ao longo de seis décadas, cuja história se confunde com a de nossa agremiação, afinal a ARUC é a sua entidade cultural mais antiga.

Referência para toda a capital federal, tanto que foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal, como toda escola de samba, ela nasce e mantém seus laços com a sua comunidade de origem.

Lembremos que ARUC é a sigla para Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro e é para representar o Cruzeiro que a ARUC sempre desfilou, então, no ano em que completa seus sessenta anos, a homenagem vai para a sua comunidade.

SINOPSE

Entre 1958 e 1959 pequenos blocos de casas geminadas foram construídas em uma área encravada no Plano Piloto de Brasília. Era um pequeno bairro, projetado pela equipe de Lúcio Costa, com o nome de Setor de Residências Econômicas Sul (SRE-S), previsto para abrigar funcionários públicos que chegassem à nova capital. Muitos vieram antes da própria inauguração para participar da construção das casas e aqui permaneceram, como Chico Bombeiro e Dona Ivone e suas famílias.

Quem chegava àquelas casas, a menos de dez quilômetros do centro da nova capital federal, provavelmente desconhecia o nome oficial do lugar onde iam morar, e se sabiam não o usavam dizer, pois era um “palavrão”.

Os moradores, a maioria vindo do Rio de Janeiro, preferiram tirar proveito da situação ainda precária do lugar e o apelidaram primeiro de Cemitério, pois de longe, apenas se viam casinhas brancas no meio da poeira vermelha. Era uma verdadeira selva, com vegetação ainda alta por perto e animais transitando pelas ruas de barro, como veados, cobras e principalmente gaviões. E assim veio o novo apelido: “Bairro do Gavião”.

O “Correio Braziliense” divulgaria a mudança do nome para Cruzeiro, pois “Gavião” tinha um sentido depreciativo para alguns moradores que procuraram o jornal, ainda em 1960, para dizer de sua insatisfação com o nome do local onde moravam. O novo batismo tinha dois fundamentos: o bairro ficava próximo ao cruzeiro onde fora celebrada a Primeira Missa de Brasília e um ônibus da TCB (Transportes Coletivos de Brasília) fazia uma linha com o nome “Cruzeiro” e ia até ao Gavião.

Assim, o SRES, antigo Gavião, virou Cruzeiro. E da antiga capital federal chegavam cada vez mais novos moradores, transformando este pedaço de cerrado em uma extensão do Rio de Janeiro sem praia: a mais carioca das cidades do DF.

É neste contexto que surge a ARUC. O gavião saiu do nome do bairro e foi pousar como símbolo da escola de samba, fundada em 21 de outubro de 1961. Nas cores azul e branco, inspiradas na Portela, mas cujo símbolo era autêntico do cerrado: o Gavião carcará!

A ARUC foi a primeira entidade cultural organizada no Cruzeiro. Mas ela viu surgirem outras mais para marcar a vocação deste pedacinho de Brasília.

Nos seus primeiros anos, o Cruzeiro viu surgir o Círculo Operário do Cruzeiro, em 1962, como um espaço para debates e promoção de trabalho social e organização de trabalhadores, que, nos últimos anos, recebe o samba do Kanella de Kobra.

Na música, a Lira Infantil de Brasília, fundada pelo Coronel Antonio Ribeiro de Jesus em 1966, teve no Maestro Zuza seu principal professor, formando instrumentistas para a nova capital, e criando a Banda do Sol, que animava bailes e festas por toda a cidade.

O Cruzeiro dobraria de tamanho partir de 1967 com a construção de um setor com blocos de quatro andares ao sul. Era o Setor de Habitações Coletivas Econômicas Sul (SHCE-S), mas o nome que ficou, os moradores pegaram carona na mudança da moeda, o Cruzeiro original passava a ser o Cruzeiro Velho e o setor foi apelidado de Cruzeiro Novo.

Nos anos setenta, o Cruzeiro vê surgir outras fortes marcas de nossa cultura: a Quast (Quadrilha do Arraiá de Santa Terezinha), nossa quadrilha junina, criado pelo padre Lino e logo coordenada por Seu Nelson que animavam as festas juninas da Paróquia Santa Terezinha. Festas juninas se espalharam pelas quadras do Novo e do Velho, como na Paróquia Nossa Senhora das Dores, uma das igrejas mais antigas de Brasília.

O rock cruzeirense viu surgir a Banda Sepultura, a verdadeira, que marcou época no rock brasiliense e abriu as portas para outras mais como Kábula e Subinstante. No Cruzeiro morou o cantor Jessé, a cantora Cássia Eller e Alexandre Carlo, vocalista da banda de reggae Natiruts. Os Festivais de Pagode, organizados pela ARUC, marcaram época, onde se destacaram grupos de pagode, como SambakiRio, Coisa Nossa, Amor Maior, Liberdade de Sonhar, Karamba e Luz do Samba, entre outros. Mais tarde, surgia os Meninos da ARUC, formados jovens componentes da ARUC.

Música boa para todos os gostos surgiu por aqui.

A década de oitenta manteve a efervescência do movimento cultural cruzeirense, que se organizava cada vez mais, com coletivos como a Galeria do Povo e a Galeria Cruzeiro-Eixo, que tempos depois se integraria à ARUC, como o seu departamento cultural e promoveria as ruas de arte e lazer, o Concerto Canta Gavião e o Cine Clube Gavião.

A relação do gavião com a comunidade sempre foi uma constante.

Na dança, o coreógrafo Andreoni fundaria o Grupo Pellinsky, que com seu trabalho junto às nossas escolas, ensinou tantos jovens a dançar os mais variados estilos, com destaque para o seu boi bumbá, o Boi Refletido.

As festas e momentos de encontro dos cruzeirenses foram se multiplicando, e as matinês na Boate Kremlin marcaram época com todo tipo de música no subsolo do Centro Comercial do Cruzeiro.

O comércio local, incipiente no início, cresceu e se desenvolveu, onde hoje se destacam o Cruzeiro Center, nosso primeiro “shopping”, com sua tradicional Festa do Beco; a Feira Permanente, onde se pode almoçar no Restaurante Gandaia, conhecido como “reduto dos sambistas”, a pastelaria Rossoni, que virou uma referência gastronômica da cidade, e o Armarinho Patota, a mais antiga loja do Cruzeiro Novo.

Foi no Cruzeiro onde surgiram também os primeiros grupos da Terceira Idade, com o Grupo Fraternidade no Cruzeiro Novo, onde se abrigou no Centro de Convivência do Idoso, e com o Grupo Paz e Amor no Cruzeiro Velho.

A cultura cruzeirense ganharia um novo espaço nos anos noventa quando foi aberta a nossa Biblioteca Pública, que tempos depois receberia salão, auditório e galeria de exposições, se transformando em Centro Cultural Rubem Valentim. Surgiria ali em 2014 a Academia Cruzeirense de Letras reunindo escritores de poesia, contos e crônicas da nossa região.

O carnaval cruzeirense sempre foi forte. Afinal, este é um bairro de cariocas. Havia até a Quadra dos Cariocas. Além da ARUC, a escola de samba mais vitoriosa, aqui surgiram vários blocos e agremiações carnavalescas - Império do Cruzeiro, Lenhadores de Brasília, Embalo do Cruzeiro Novo, Cacique do Cruzeiro, Pulo do Gato, Gagá...vião, Suvaco da Asa. E toda criança com mais de trinta anos hoje correu um dia dos Bate-Bola. Um dos pontos de encontro da folia era o Quadradão da 1205 com ruas de lazer, jogos e apresentações. Futebol de homens vestidos de mulher foram disputados em várias quadras, mas na quadra 08 do Cruzeiro Velho o jogo do Piranhão é o mais divertido até hoje. Sem falar no tradicional Bloco das Piranhas que promove, todos os anos, o divertido concurso da Rainha das Piranhas.

O esporte sempre foi forte no Cruzeiro, desde a pioneira Associação Esportiva Cruzeiro do Sul, campeã brasiliense de futebol em 1963, que funcionava onde hoje está instalada a ARUC, até as vitoriosas equipes da ARUC de futsal, handebol e beach soccer. Os Jogos Comunitários, promovidos pela ARUC, a partir de 1985, movimentaram e integraram ainda mais os atletas do Cruzeiro, com nossas equipes disputando verdadeiras olimpíadas cruzeirenses por vários anos. Equipes vitoriosas foram formadas como Chegados, Sambola, Pé Inchado, Ajax e Rabelo, sem falar das acirradas peladas disputadas no antológico Escorre Sangue. Esta intensa atividade desportiva levaria à construção de nosso Ginásio de Esportes, o de melhor estrutura entre as cidades do DF.

O Cruzeiro já foi chamado de cidade dormitório, cidade-satélite, primo pobre do Plano Piloto. Precisava ser reconhecido como as demais cidades do DF e ser uma Região Administrativa. Assim entidades comunitárias começaram a pressionar, mas foi da ARUC o papel de maior destaque. Primeiro foi o seu departamento cultural que pesquisou e estabeleceu a data de fundação do Cruzeiro como sendo o dia 30 de novembro de 1959.

Com este trabalho, o Governador do Distrito Federal assinou em 1987 os decretos que criaram a administração regional e declararam a data oficial de fundação. Foi uma grande conquista para a comunidade da qual a ARUC foi fundamental. Basta ver a bandeira do Cruzeiro escolhida em concurso na comunidade em 1993, onde predomina o azul e branco. As cores não foram à toa.

Cruzeiro Velho e Cruzeiro Novo. Dois bairros “irmãos”, metades de um mesmo coração. Com cara de cidadezinha do interior ou de bairro, contornado pela Avenida das Jaqueiras, e de frondosas mangueiras, na "Pista da Divisa", o Cruzeiro é hoje um lugar bem diferente dos tempos em que gaviões sobrevoavam as casinhas brancas em meio ao barro vermelho.

Cruzeiro é terra de festa e carnaval; de samba, esporte e cultura.


BIBLIOGRAFIA

PATRIMÔNIO NAS RUAS. Brasília: Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico, 2002.

 

SOUZA, Rafael Fernandes de. CRUZEIRO: Retratos de sua história. Brasília: FAC, 2010.

Disponível em: https://issuu.com/rofegano/docs/livro_cruzeiro_001

 

SOUZA, Rafael Fernandes de. OFICINA HISTÓRICO-LITERÁRIA: Cruzeiro, 50 anos. Brasília: FAC, 2011.

Disponível em: https://issuu.com/rofegano/docs/oficina_hist_rico_liter_ria

 

SOUZA, Rafael Fernandes de. VOA GAVIÃO: a trajetória da ARUC no samba, esporte e cultura. Brasília: FAC, 2007.


Vídeo documentário: De Cemitério a Gavião, de Gavião a Cruzeiro

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bLfPWawlYpo


2 comentários:

  1. uma linda história..sou carioca e sempre fui no cruzeiro desde que cheguei aqui em 1990 .... mas nunca tive oportunidade de morar nessa cidade maravilhosa de cariocas e conterraneos simplesmente maravilhosos ... um dia chego ai..cru cru.... me aguarde.

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  2. morei 26 anos em samambais e agora estou em valparaiso de goiás com 69 mas semperder a espertiva ...sou mangueirense mas sempre me identifiquei aqui com a Aruc....

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