Enredo Carnaval 2022

UMA OUTRA HISTÓRIA DO BRASIL:
E SE A NOSSA INDEPENDÊNCIA FOSSE DIFERENTE?
Autoria: Rafael Fernandes de Souza


RESUMO
No ano em que o Brasil completa duzentos anos de sua Independência, a ARUC terá como enredo em 2022 uma história alternativa, um exercício de imaginação que tem como premissa: E se a Independência do Brasil tivesse sido de outra forma e isso levasse o país para outro caminho? Pedro Negro começa uma revolução e faz tudo diferente de Dom Pedro I. O Brasil teria começado uma revolução popular contra o domínio português e a escravidão teria acabado logo no início, o país jamais seria uma monarquia, a desigualdade seria combatida e teríamos uma verdadeira democracia. A partir daí não teríamos golpe militar, elite opressora e o Brasil seria uma verdadeira mãe gentil. A ARUC quer, portanto, imaginar uma história que deu certo para toda a brava gente brasileira.

APRESENTAÇÃO 
Em antigos carnavais eram comuns os sambas-exaltação e as homenagens aos “grandes vultos nacionais”, até porque os primeiros regulamentos exigiam que os temas fossem somente relacionados com a história e a cultura brasileira. O governo de Getúlio Vargas foi o maior responsável por esta regra, com o objetivo de construir uma identidade nacional a partir do samba e dos desfiles. E assim muitos enredos ganharam um caráter ufanista por muitos anos, até que aos poucos a irreverência e a crítica foram ganhando espaço com a redemocratização do país.
Considerando que o ano de 2022 marcará o bicentenário da Independência do Brasil, data significativa e momento que possivelmente marcará grandes reflexões sobre o contexto nacional, a ARUC apresenta o presente enredo, baseado em uma história alternativa.
História alternativa (também denominada ucronia) é um subgênero da ficção especulativa (ou da ficção científica), cuja trama transcorre num mundo no qual a história possui um ponto de divergência da história como nós a conhecemos. A literatura de história alternativa faz a seguinte pergunta: "o que aconteceria se a história tivesse transcorrido de maneira diferente?"
O que aconteceria se a Independência do Brasil fosse feita por um outro Pedro?
A partir dessa História alternativa, imaginamos um Brasil surgindo não pela proclamação do príncipe português, mas sim pela liderança de um negro alforriado que começa uma grande revolta contra o domínio português. É um exercício de imaginação que procura pensar se o Brasil seria diferente, duzentos anos depois.

SINOPSE

1ª parte – Antecedentes da Independência
Os últimos momentos do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve podem ser lembrados quando, no dia 25 de abril de 1821, Dom João VI se despede de seu filho Pedro, nomeado agora príncipe regente em seu nome e parte para Lisboa, após uma permanência de treze anos no Brasil, do qual levou saudades, mas também todo o tesouro nacional. O rei português diz ao filho: " Pedro, se o Brasil for se separar de Portugal, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros".
As tensões nas cortes portuguesas levaram o rei a deixar o Brasil e retornar a Portugal, sabendo que os laços que uniam os dois territórios estavam cada vez mais desfeitos. Coube a dom Pedro governar o Brasil em nome de seu pai, enquanto as pressões por uma nova Constituição e o fim do absolutismo mudavam o panorama político português. E embora respeitasse seu pai, o príncipe regente cada vez mais se tornava um líder para o Brasil daqueles tempos difíceis.
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Digam ao povo que fico!" Esta frase célebre marcou o dia 9 de janeiro de 1822, quando o príncipe desobedeceu às ordens vindas de Portugal e não retornou a seu país. A ruptura entre as nações ficava cada vez mais próxima. 
Dom Pedro tentou manter pelos meses seguintes alguma aparência de unidade com Portugal, porém a ruptura final era iminente. Procurou apoio fora do Rio de Janeiro com o auxílio de seu ministro José Bonifácio de Andrada e Silva. O príncipe viajou para a província de Minas Gerais em abril e depois para São Paulo em agosto. Foi bem recebido nas duas províncias e as visitas reforçaram sua autoridade.

2ª parte – Um negro chamado Pedro
Em paralelo, um outro Pedro enfrentava desafios não menos grandiosos. Pedro da Silva tinha vinte e poucos anos, foi separado dos seus pais ainda criança e tentava sobreviver como era possível para um jovem negro escravizado em uma ex-colônia que ainda não sabia se continuava ligada a metrópole europeia.
Pedro era muito esperto e fazia os mais diversos tipos de serviços como lidar com a roça, e também de carpintaria, de ajudante de obras, de guarda-costas, enfim, fazia de tudo um pouco. 
Com tanta vivacidade, mesmo tão jovem, acabava aglutinando as pessoas a seu redor. Era muito bem quisto e formou um grande grupo de amigos leais no sítio. Foi desta forma que conseguiu algo ainda mais raro que a liberdade para um negro naqueles tempos. Aprendeu a ler e escrever, graças a um velho professor. O velho Bonifácio foi seu mestre, e fez com que Pedro dominasse as letras, como poucos eram capazes naqueles tempos.
Bonifácio Kaingang era um velho indígena que estudou com jesuítas em um aldeamento e aprendeu muito sobre filosofia e sobre os ideais iluministas de liberdade e igualdade. Ele unia a sabedoria dos povos originários com o que aprendera com os padres jesuítas. Já velho, foi morar na mesma fazenda onde Pedro cresceu.
A relação de Pedro e Bonifácio era como de pai e filho, e graças aos conhecimentos que recebeu, Pedro conseguiu a tão sonhada alforria, pois realizava serviços que poucos eram capazes, como cuidar das vendas e dos estoques de café. Mesmo alforriado, ele não esquecia suas origens e seguia próximo aos irmãos de cor ainda escravizados, sem nunca denunciar aqueles que por ventura fugissem. Era odiado pelo capitão do mato, mas até que contava com a confiança do patrão.
Foi nessa época em que foi levar um carregamento de café a uma venda próxima às margens do riacho Ipiranga, na estrada que ia de Santos a São Paulo. Ele estava acompanhado de alguns trabalhadores da fazenda, quando viu uma pequena comitiva.
 
3ª parte – A história agora é outra
O dia era 7 de setembro de 1822. Paulo Bregaro era o mensageiro que trazia as cartas de dona Leopoldina vindo do Rio de Janeiro naquele dia. Ele deveria entregar as correspondências a dom Pedro. Uma das cartas trazia ordens ainda mais duras por parte dos portugueses retirando poderes do príncipe regente para assim recolonizar o Brasil e uma outra trazia a consideração de Leopoldina de que o momento exigia a separação de Portugal. “O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece"
A comitiva de dom Pedro estava aguardando o príncipe que não se sentia bem e havia realizado várias paradas para que se aliviasse de uma indisposição intestinal insistente. E neste ponto a história segue para um caminho alternativo. Naquela tarde, embora não houvesse muitas nuvens, um forte raio rasgou os céus e então um gavião azul sobrevoou o Ipiranga, pousando às margens do riacho.
O príncipe sai de onde estava e vai de encontro aos seus acompanhantes, ainda trôpego. O mensageiro o observa de longe, mas Pedro de Alcântara não está nada bem. É quando ele cai e é acudido pelo jovem negro Pedro da Silva. O príncipe agradece o apoio do rapaz e o mensageiro se aproxima e entrega as cartas. Sentindo ainda muitas dores, o Pedro português é amparado pelo Pedro brasileiro que lê os papéis para a surpresa de quem estava próximo. 
A ideia de Leopoldina é tornar o Brasil independente o quanto antes e dom Pedro voltar ao Rio de Janeiro imediatamente. Mas para surpresa de todos, o Pedro português não resiste e só consegue sussurrar algo para o Pedro brasileiro que o segura. 
E foi assim que Pedro da Silva deitou seu xará falecido com todo respeito ao chão, ergueu-se com o punho cerrado para cima e gritou para todos ouvirem, às margens do Ipiranga: Independência ou Morte! Independência é vida!

4ª parte – Pedro negro lidera um novo Brasil
Dom Pedro de Alcântara estava morto. A comitiva estava entristecida. E em meio à consternação, estava o Pedro Negro com as cartas de Leopoldina na mão. Ele sabia que o momento não permitia hesitação. Ele se aproxima dos seus amigos e fala sobre o conteúdo das cartas. “Para libertar o Brasil, é preciso libertar os brasileiros primeiro!”
A comitiva se encarrega de levar o corpo de dom Pedro para São Paulo. Para eles não havia mais o que fazer.
E assim o pequeno grupo de escravos volta para o sítio. A notícia se espalha rapidamente. As cartas de Leopoldina já eram de conhecimento de todos. Pedro fala para os escravos do sítio, fala com os capatazes, todos começam a se encher de brios. A revolta estava começando.
Em São Paulo, o luto por dom Pedro é cortado pelas palavras de ordem dos populares. As pessoas na rua gritavam Independência ou Morte e destruíam qualquer símbolo português. Escravos se juntavam a alforriados, negros se uniam com indígenas, homens e mulheres, todos juntos, foram tomando as ruas, as praças, as estradas. O povo brasileiro foi sendo tomado por um espírito guerreiro.
E a frente de tudo isso, montado na mula que dom Pedro usava, estava Pedro negro. De vestes simples, um homem do povo liderando o próprio povo. As multidões foram para cima dos soldados portugueses que chegavam às margens do Ipiranga, e de lá foram derrotados por cada vez mais brasileiros que se juntavam à luta. As águas do riacho foram tomadas de vermelho, tal qual seu nome em tupi-guarani.
E depois de tantas batalhas, os portugueses foram obrigados a recuar. Pedro Negro viaja para o Rio de Janeiro com os seus companheiros. A luta seguiria na capital. As tropas portuguesas não eram páreo para tantos brasileiros que usavam o que tinham a mão. Foices, machados, panelas e cabos de vassouras; mas também espingardas e carabinas.
O Rio de Janeiro foi tomado por uma batalha e da sacada do Palácio, a princesa Leopoldina dava ordens aos soldados. Ela, que ficara como regente no lugar do marido falecido, entendeu o que se passava. O povo estava tomando a frente da luta que seu esposo não pudera realizar. Agora ela iria até o fim. E assim seus soldados se juntaram ao povo contra os portugueses.
A luta foi intensa, mas, naquela tarde, Portugal fora derrotado. Negros, brancos, índios; homens e mulheres, os brasileiros finalmente eram um povo só, unidos contra a opressão.
Pedro Negro foi erguido nos braços do povo e conduzido para o Paço Imperial onde foi recebido pela princesa regente. Ele trazia consigo a carta que ela escrevera, toda amassada e manchada de sangue. Naquele momento a princesa e o jovem negro se entreolharam e ela entendeu o que o destino havia traçado.
Leopoldina ergueu o braço de Pedro para que todos na praça pudessem ver. Ele havia cumprido a missão destinada ao príncipe e liderado a luta pela Independência. Um negro, pobre, que não conhecera seu pai e perdera a mãe era o líder da revolução brasileira.
E da sacada, Pedro tomou a palavra: Fomos todos nós quem conquistamos nossa liberdade. Sem a mão de um senhor a nos castigar. Sem um branco a oprimir um negro ou molestar um índio da terra. Chega de opressão! A Independência tem de ser para todos. Chega de escravidão! A Liberdade chegou, ainda que tardia!

5ª parte – Um Brasil diferente seria possível?
O Brasil era independente, a escravidão estava abolida de imediato e o país se reconstruía. Boa parte da nobreza portuguesa e os grandes fazendeiros acabaram fugindo do país com medo da revolução que se espalhava. Era o povo quem mandava agora. 
A elite branca, tanto a portuguesa como a brasileira, que temia um novo Haiti, não teve como reagir. Os fazendeiros mais violentos com os negros foram punidos com os mesmos castigos, e as grandes fazendas foram divididas pelos antigos escravizados. A terra foi suficiente para todos.
Uma grande Reforma Agrária estava em curso no país. Foi organizada a eleição, e o povo nas ruas já tinha a solução. Não havia espaço para monarquia ou realeza. A República já era uma certeza. 
Pedro Negro, como passou a ser chamado, foi então aclamado, pois como o líder do movimento, era o nome mais lembrado. Instalou o governo com todo tipo de gente: negros, índios, brancos; fossem imigrantes ou antigos residentes.
O Brasil assim se tornou uma verdadeira nação. As cores da bandeira foram escolhidas por outra razão. Não mais as casas reais dos Bragança e dos Habsburgo, mas o verde da esperança e o amarelo da alegria compunham o pavilhão. E a nossa História seguiu por esta linha alternativa, com tudo diferente do que aprendemos até então. 
Pedro Negro governaria por dez anos, sendo eleito pela maioria da população. O governo olharia para todos, sem nenhuma distinção. E novos nomes foram surgindo, como novos líderes a cada geração. Negros e indígenas, mulheres e homens, de Norte a Sul, foi se construindo uma forte relação: um sentimento de unidade, como nunca antes se viu em todo este território.
Nenhum golpe militar seria dado, pois as Forças Armadas sabiam do seu lugar. Os presidentes foram sendo eleitos e não tivemos uma República do Café com Leite, nem os dois golpes de Getúlio. Uma verdadeira democracia foi crescendo, e tudo funcionava muito bem. Não havia espaço para ditaduras, perseguições ou torturas. Militar no quartel e o povo no comando. 
Educação e saúde ao alcance de todos e a desigualdade cada vez menos era vista. A Independência lá atrás superou a morte, a tristeza e a escravidão. Duzentos anos se passaram e os filhos da pátria podem ver contentes sua mãe gentil até hoje, pois o Brasil manteve como lema: Independência é vida!

PALAVRAS CHAVE:
INDEPENDÊNCIA É VIDA    |    BRASIL    |    DUZENTOS ANOS    |    PEDRO NEGRO    |    ARUC

Sugestão para refrão:
A exemplo de “Liberdade, liberdade...” da Imperatriz Leopoldinense 1989, sugerimos usar um trecho do Hino à Independência do Brasil, que segue em anexo.

Composição: Dom Pedro I / Evaristo Da Veiga 

Já podeis, da Pátria filhos
Ver contente a mãe gentil
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Já raiou a liberdade
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil

Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil
Houve mão mais poderosa
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil

Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Não temais ímpias falanges
Que apresentam face hostil
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil

Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Parabéns, ó brasileiro
Já, com garbo varonil
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil

Brava gente brasileira
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

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