segunda-feira, 24 de outubro de 2011

BATERIA NOTA 10

Leiam a emocionante crônica de Conceição Freitas, do Correio Braziliense, sobre a Bateria Nota 10 da ARUC, dirigida pelo Mestre Brannca, publicada na edição de sexta-feira, dia 21 de outubro.



Comemorava-se o aniversário de 30 anos da filha de uma amiga. Anunciou-se uma surpresa para 1h da madrugada. Com vista para a Ponte JK, a boate oferecia aos convidados uma música cujo gênero não sei identificar. Mas os convidados da aniversariante dançavam numa coreografia autômata, levando o corpo de um lado a outro, do outro a um. Até que o DJ foi chamado ao descanso e ouviram-se tambores. Era a bateria da Aruc entrando no salão, com seu uniforme azul, sua pele negra e parda, bem mais negra do que parda (havia uma loirinha, mas não parecia ser de nascença).
O grupo, de 15 ou 16 integrantes, dos quais dois puxadores de samba e duas passistas, era liderado peloMestre Brannca, diretor de bateria da escola. Mudou tudo. O balanço da garotada
(de 30 anos!), o ânimo dos garçons, o consumodecerveja, a alegriadaaniversariante, o amor do namorado da aniversariante a felicidade dos pais da aniversariante, a batida no meu jeito.O toque do tambor recupera sons ancestrais presentes na formação do povo brasileiro. Isso não é antropologia barata de cronista. É experiência que o corpo registra e a alma confirma.
O pedaço de bateria da Aruc que desceu do Cruzeiro para perto da Ponte JK era a representação simbólica de parte importante da formaçãodopovo brasiliense. Eram filhos e filhas de candangos que vieram do Rio de Janeiro e trouxeramo sangue, o suor e o samba. Era uma festa pequena, o que podia permitir um certo à vontade para a bateria da agremiação. Foi aí que me surpreendi. Sob o comando de Mestre Brannca, os músicos se comportavam com a disciplina de um desfile decisivo de carnaval. De pele negra como asas as da graúna, Brannca conduz a bateria como se estivesse em comunhão com os deuses do samba. Comos olhos semicerrados, o queixo levemente levantado, ele abre os braços, tremula as mãos, aciona o apito, para um grupo de obedientes integrantes da bateria. Em alguns momentos, o olhão quase fechado parece proteger o sono do mestre — é ele, incorporado inteiramente ao batuque, que forjou a mais bela entre todas as invenções brasileiras.
É hora de partir. A bateria agradece e sai, com a mesma serena elegância com que entrou no salão da boate.


P.S. Hoje a Aruc comemora seus 50 anos. Antes do samba na quadra, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro será homenage a da pela Câmara Legislativa. Entre os convidados da festa na quadra, Monarco e a Velha Guarda da Portela,Grupo Luz do Samba, Dorina, Marquinhos Diniz, SambadoKarrapixo, Evandro Barcellos,MakleyMatos e a Bateria Nota 10. O ingresso é a doação de 2kg de alimentos não perecíveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário