Irlam Rocha Lima, do Correio Braziliense em 05/08/2018 06:20
Monarco e Tia Surica são convidados especiais da noite (foto: Vera Donato/Divulgação) |
Campeoníssima do carnaval de Brasília, com 31 títulos conquistados, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), mesmo com a interrupção do desfile das escolas de samba nos últimos quatro anos, mantém-se em franca atividade, movimentando sua sede, com eventos diversos, atraindo pessoas de diferentes gerações.
Hoje, a partir das 16h, por exemplo, a azul e branco do Cruzeiro Velho faz festa para lançar o CD Sambas históricos da Aruc, que reúne 15 sambas-enredos que ainda não haviam recebido registro, e com os quais a escola se tornou-se campeã em desfiles nas décadas de 1970, 1980 e 1990. A ideia, com esse projeto, é preservar a memória da entidade e do carnaval da capital.
Para celebrar o lançamento do disco, está programada uma série de shows, com a participação da cantora Dhi Ribeiro, do grupo 7 na Roda, de intérpretes da escola e da Bateria Ritmo Quente. Os dois convidados especiais são Mestre Monarco e Tia Surica, da Velha Guarda da Portela e madrinha da Aruc.
Um dos nomes de maior destaque do samba na cidade, Dhi Ribeiro não só emprestou a voz para a gravação do Sambas históricos, como vai tomar parte do show. “Minha ligação com a Aruc tem mais de 20 anos. Em 1996 desfilei com a escola pela primeira vez”, lembra. “Desde então, com frequência, tenho marcado presença na quadra do Cruzeiro Velho. Foi ali onde dei início ao projeto Dhi Ribeiro convida. Me sinto horada por ter sido convidada para gravar o CD com os sambas-enredos da Aruc que marcaram época; e de fazer um show na festa de lançamento desse projeto”, acrescenta.
A relação de Dhi Ribeiro com a Aruc tem mais de 20 anos. (foto: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press) |
Breno Alves é o pandeirista e vocalista do 7 na Roda, conjunto que vai acompanhar Tia Surica e Mestre Monarco nesta noite. “Tenho o maior respeito pela história da Aruc, agremiação que tem dado importante contribuição para o samba em Brasília. Mesmo com a interrupção do desfile das escolas brasilienses, ela mantém viva a chama do nosso gênero musical representativo na capital do país”, enaltece.
Vocalista da Velha Guarda da Portela, Tia Surica esteve uma única vez com o grupo na Aruc, fazendo show na comemoração dos 50 anos da escola, em 2011. Hoje ela está de volta, ao lado do Mestre Monarco, para abrilhantar a festa em torno do álbum Sambas históricos. “Tive uma grande satisfação ao ser convidada para me juntar a Monarco e sambistas de Brasília nesta festa da Aruc”, comenta. “No meu show, vou cantar alguns sambas de Candeia, Mauro Duarte e Paulinho a Viola, entre outros. No final me junto ao Monarco para interpretar sambas de autoria dele”, complementa.
Sambas históricos da Aruc
Festa-show para lançamento do CD, com a participação de Dhi Ribeiro, do grupo 7 na Roda, de intérpretes da escola e da Bateria Ritmo Quente; e dos convidados especiais Mestre Monarco e Tia Surica, hoje, a partir das 16h, na sede da escola no Cruzeiro Velho. Ingressos a R$ 10, com direito ao CD, à venda na bilheteria. Não recomendado para menores de 16 anos.
Entrevista/ Mestre Monarco
O senhor é portelense desde quando?
Cheguei à escola na adolescência, quando minha família se mudou de Nova Iguaçu para Oswaldo Cruz. Mas a minha atração pelo samba teve início na infância, em Cavalcanti, onde nasci. Há 72 anos, o destino me levou à Portela, onde desenvolvi o dom de compositor
Lembra do primeiro samba que compôs para a Portela?
Não poderia esquecer. É o Retumbante vitória, de 1952. Fui elogiado pessoalmente por Seu Natal (Natalino Nascimento), que à época era o presidente da escola. Foi ele quem me botou na roda para cantar esse samba, o que era uma grande responsabilidade para mim. Depois fiz mais de 50 sambas para minha escola querida.
Quais são suas composições de maior sucesso?
São muitas, mas eu destaco De Paulo a Paulinho, Doce melodia , Passado de glória, Quitandeiro, Tudo menos amor, Vai vadiar e Coração em desalinho. Este foi o de maior sucesso.
Há quantos títulos em sua discografia?
Lancei 15 discos. O mais recente é o Passado de glória — Monarco 80 anos, de 2014.
Entre os sambistas, quem mais gravou suas músicas?
O Zeca Pagodinho, com certeza. Ele me grava desde o seu disco de estreia. Mas tenho músicas em discos de Paulinho da Viola, João Nogueira, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Maria Rita, entre outros.
Qual é a sua relação com a Aruc?
Posso dizer que é uma relação bonita. Sempre que eles me chamam eu vou à escola, afilhada da Portela. Sozinho já fui várias vezes; e outras duas com a Velha Guarda da Portela. Agora volto para festejar com o Moa o lançamento do CD Sambas históricos, acompanhado pelos meninos do 7 na Roda.
História da escola
O CD Sambas históricos da Aruc, com direção de Valerinho Xavier, reúne 15 sambas-enredos campeões das décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, que ainda não haviam sido gravados e mais o hino da escola. Os intérpretes são Binho da Paz, Cláudio Vagarezza, Renan da Cuíca, Antônio Soares, Mestre Lollo, Dhi Ribeiro, Teresa Lopes, Milsinho e Marcelo Sena, que foram acompanhados pela Bateria Ritmo Quente. “Entre os sambas gravados, alguns têm significado especial na história da Aruc, como o de 1965, Imprensa Régia, o do primeiro título, de Cláudio Silva e Wanderley Cardoso; o de 1969, Rio através dos séculos, de Paulo Martinho, do primeiro pentacampeonato; o de 1975, Raízes do nosso povo, de Alberto Faria e Ciro Santos, quando a Aruc deu a volta por cima, e foi campeã, depois de ter sido desclassificada em 1974”, destaca Moacir de Oliveira (foto), atual presidente da agremiação. Moa, como o dirigente é chamado pelos amigos, põe em relevo também o Agoniza, mas não morre, dele em parceria com Siqueira do Cavaco, Dilson Marimba, Marcelo Sena e Miguel Brigadeiro, de 1997, “quando a Aruc, depois de três anos sem desfilar, voltou para a avenida para ser campeã”. O projeto foi realizado com recursos do FAC – Fundo de Apoio à Cultura, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, que prevê o lançamento de outros três volumes.