A ARUC apresenta o seu Tema-Enredo para o carnaval 2013.
O Gavião apaixonado apresenta três formas de amor
Proposta e colaboração: Abelardo Monteiro, Márcio Coutinho e Wellington Vareta
Pesquisa e redação: Rafael Fernandes de Souza
Apresentação
O Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes:
"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, o fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Chega uma hora em que, mais cedo ou mais tarde, o amor floresce em nós. Aconteceu também ao nosso Gavião, símbolo da ARUC. Perdidamente apaixonado, o Gavião quer conquistar o seu amor, mas não sabe como. O que fazer para obter a atenção de sua amada?
E sai voando em busca de inspiração, em busca de respostas sobre este sentimento que arde em seu peito. Eis que em sua busca ele conhece três filósofos que debatiam justamente sobre as formas de amar. Cada um defendendo um tipo de amor como a forma mais poderosa. Isto porque Filosofia significa justamente o “Amor à sabedoria” na língua grega, e neste idioma há três palavras distintas para se definir o amor: Ágape, Eros e Philos.
Para intermediar o debate, os filósofos pedem a participação do Gavião. A exemplo das antigas deusas Hera, Atena e Afrodite que foram até Páris de Tróia para julgar qual delas seria a mais bela e merecedora da maçã de ouro, oferecendo oportunidades infinitamente gloriosas. Em troca da maçã de ouro, Atena ofereceu a Páris a chefia de uma histórica e vitoriosa guerra. Já Hera ofereceu a ele a glória de ser o Rei absoluto de toda a Europa e Ásia. E Afrodite por sua vez, ofereceu a ele o amor da mais bela mulher do mundo. Então Páris considerou Afrodite a vencedora e em troca recebeu o amor de Helena de Esparta.
Os filósofos então resolvem, cada um, falar de um tipo de amor para o Gavião e após o debate, ajudariam a ave apaixonada a conquistar o coração de sua amada.
O primeiro defende a ideia da PHILIA como um virtuoso e desapaixonado amor. Conceito desenvolvido por Aristóteles, inclui lealdade para com seus amigos, familiares e comunidade, e exige força, igualdade e familiaridade. Philia é motivada por razões práticas; de uma ou de ambas as partes a se beneficiarem da relação. Também pode significar "o amor da mente".
E o Gavião começa a pensar no que isto pode lhe representar, e quando pensa em comunidade, logo vem a imagem do Cruzeiro, de suas casas e blocos, das famílias que fundaram a ARUC, do amor por aquele espaço, onde cresceu e se tornou o maior vencedor do carnaval de Brasília.
Brasília também tão querida, capital acolhedora, que recebe os brasileiros de todos os cantos do país, que mesmo incompreendida por muitos que são de fora, é amada por quem aqui vive e que a defende por saber o que representa para o nosso Brasil.
E como não pensar no amor à Pátria? Nação que vem crescendo a cada ano, oferecendo mais oportunidades ao seu povo, o Brasil vai se firmando como uma das maiores economias do mundo, mas que somente com muito amor ao próximo vai superar gradualmente as desigualdades sociais.
Mas este povo brasileiro não se curva, e mesmo nas dificuldades não abre mão do amor pela vida, pela alegria. E como celebrar esta alegria de maneira tão brasileira? É com o carnaval, festa que tanto empolga e mobiliza os brasileiros em um grande congraçamento. E é também com o futebol, que une pessoas desconhecidas agindo como velhos amigos ao defenderem as mesmas cores em uma arquibancada.
O segundo filósofo vem enaltecer o amor EROS, o amor apaixonado, com desejo sensual. Representa a parte consciente do amor que uma pessoa sente por outra. É o amor que se liga de forma mais clara à atração física, e frequentemente compele as pessoas a manterem um relacionamento amoroso continuado. Nesse sentido também é sinônimo de sensualidade que leva a atração física. Seria o “amor do corpo”.
O coração do Gavião palpita mais forte, ao pensar em sua amada. Como Páris, ele lembra que Afrodite ofereceu o bem maior que é o amor, e se vê lado a lado com sua paixão, desfrutando de momentos felizes. Imagina como seria bom namorar com ela no escurinho do cinema, vendo filmes de amor. Alguns casais lhe inspiram, como Scarlett O’Hara & Rett Buttler em “E o Vento Levou”; como os gângsters “Bonnie & Clyde”; como Lois Lane & Super-Homem e tantos outros que se amaram intensamente.
Além do cinema, a música expressa tão bem este sentimento, pois como disse Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, e Roberto Carlos para quem: “Nem mesmo o céu, nem as estrelas / Nem mesmo o mar e o infinito / Não é maior que o meu amor, nem mais bonito”.
O amor às vezes é trágico, mas os exemplos mostram que pior do que sofrer por não ser amado, é jamais ter amado. O que dizer do jovem casal da pequena Verona que superaram a briga de suas famílias em nome do amor, a ponto de pagarem com a morte o direito de se amarem. Shakespeare nos trouxe a história de Romeu e Julieta como um dos mais lembrados exemplos de amor.
Mas o amor triunfa sempre, e é fonte de alegria. Alegria que para o Gavião se traduz no seu estilo musical favorito, o samba. Uma paixão sem limites, que mexe com o corpo, e faz vibrar com a batida da bateria nota dez a exaltar o amor ao som de repiques e tamborins.
E é ao som do samba que em bailes de carnaval surgem amores repentinos e avassaladores, como o famoso caso do Arlequim e da Colombina que fortemente simbolizam o carnaval, para a tristeza do pobre Pierrot.
No Brasil há casos de amores que sobreviveram às mais duras condições, como no caso de Lampião e Maria Bonita que lideravam cangaceiros na Caatinga em constante luta contra a volante, e estiveram juntos até o fim, provando que até em uma vida bandida é possível ter um amor duradouro.
O amor é uma força incontrolável, e quem não vê cara, não vê coração. Não tem espaço para preconceito, mesmo quando acontece entre iguais. Hoje a sociedade é mais aberta e repreende como um crime a prática da homofobia.
É a vez de o terceiro filósofo exaltar o amor AGAPE, palavra que representa o amor divino, incondicional, com auto-sacrifício, pela vontade e pelo pensamento, embora esse amor Agape também possa ser praticado por humanos, ainda que em grau bem inferior, obviamente, em função da imperfeição e das limitações humanas. É o “amor da alma”.
Amor assim, tão desprendido, não é um amor qualquer. Um amor que conforta, que afaga. E o Gavião tem em mente o seu ninho, onde moram seus pais, lá no Cruzeiro. O seu lar, seu porto seguro, onde ao lado da família, sempre encontra felicidade.
E na família não há amor maior que o amor da mãe. Seu abraço carinhoso e envolvente é lembrança eterna, mesmo quando os filhos saem de casa.
Amar e querer bem, sem escolher para quem. Amar o próximo é um dos maiores ensinamentos. A compaixão precisa ser praticada, como os anjos rosas tão bem demonstram em suas visitas aos hospitais.
O cuidado com o próximo é uma forma muita clara de amor. Quem ama cuida e protege, especialmente aqueles que são mais indefesos, como as nossas crianças, que são criadas para ter o seu final feliz, tal qual nos contos de fadas, onde o príncipe encantado salva a princesa e todos são felizes para sempre.
São nossas crianças, que são resultado do amor e a continuidade da vida e, espalham o nobre sentimento de seus corações, tal qual o Cupido que na mitologia flechava os amantes e juntava casais, em um ciclo sem fim onde o amor atravessa as gerações.
Ao ouvir os três filósofos, o Gavião não tem dúvida. O amor é muito maior do que as definições que os homens lhe dão. É impossível escolher um só tipo de amor. Ao coração não cabe racionalizar sobre o sentimento, mas simplesmente sentir.
E partiu, deixando os filósofos com suas inquietações. Partiu para alcançar o que motivara sua jornada. Foi em busca do seu verdadeiro amor.