terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Brasilienses desistem de desfilar no Carnaval do Rio de Janeiro

Com um samba no pé que a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc) já conhece bem, os amigos e destaques da escola de samba Flávio Homero e Andreoni Pellinsky haviam escolhido a carioca Acadêmicos do Grande Rio para começar o carnaval 2011. O interesse em desfilar pela escola surgiu no último carnaval, quando viram de perto uma apresentação no Rio de Janeiro e se renderam à vibração transmitida pelo encontro entre harmonia e evolução. A certeza em participar do desfile deste ano veio há uma semana, quando os sambistas fizeram a pré-reserva de uma fantasia de composição de carro, que dá suporte ao destaque principal, e reuniram — cada um — o valor de R$ 4 mil para a fantasia da escola.

Estava tudo certo. Até a notícia do incêndio nos barracões da Cidade do Samba chegar. “Quando eu vi o que estava acontecendo, confesso que chorei. A gente sabe o que isso significa, entendemos o processo. Sabemos o valor das penas e o trabalho manual que foi perdido nesse incêndio”, desabafa Andreoni, que também é coreógrafo. Para ele, não valeria a pena viajar para desfilar na escola, depois das perdas provocadas pelo incêndio. “A escola vai perder um pouco do brilho. Grande Rio é glamour, e ela perdeu material demais. Como no Rio o povo é muito unido, acredito que as escolas deverão ajudar, mas é um trabalho de meses”, pondera. Flávio ainda questiona: “Será que vai ter fantasia para todo mundo? Eles vão conseguir refazer tudo?” Como a dupla pagaria pela fantasia apenas quando chegasse na cidade, Flávio afirma que preferiram focar a atenção no carnaval do Distrito Federal, deixando o espaço na escola carioca para as pessoas da comunidade local.

De acordo com a Liga Independente das Escolas de Samba no Rio de Janeiro (Liesa), as fantasias das escolas atingidas pelo incêndio (Grande Rio, Portela e União da Ilha) provavelmente pertenciam às alas da comunidade e que, normalmente, as fantasias destinadas a turistas não são elaboradas nos barracões, e sim em ateliês dos próprios presidentes das demais alas. A Grande Rio confirmou que, das quatro mil fantasias, as mil destinadas para venda não se encontravam no barracão queimado, e a Portela ratificou a informação: alegorias de turistas continuam à venda.

A portelense Ana dos Santos de Oliveira, 71 anos, conversou com o Correio e disse não estar tão interessada em saber onde está sua fantasia. “Eu fiquei muito triste, mas não é culpa da escola. Eu acho que minha fantasia não estava no barracão. Mas se não der jeito, desfilo de calça jeans e blusa branca. Eu quero é pular.” A ex-cabeleireira desfila na Portela desde os 13 anos e faz questão de se solidarizar com a escola. “Vamos eu e Deus para o Rio, e lá encontro com minhas sobrinhas. Já paguei metade do valor pela fantasia e lá eu pago pelo restante. Mas se der algum problema com a fantasia, não peço o valor de volta. Aconteceu, não vou me estressar”, diz.

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