terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O samba que agoniza mas não morre

Escrito por Renan Apuk
Fotos de Camila Brunca.
Domingo, 26 de dezembro de 2010.


O samba é um gênero tão brasileiro que tem as mesmas peculiaridades do seu povo. Alegre, marcante e multifacetado. Nesta semana do samba de mil faces, Contexto foi até a ARUC, Escola de Samba do Cruzeiro. Nada menos que a mais tradicional do Distrito Federal e 30 vezes campeã do carnaval brasiliense.

Rafael Fernandes de Souza é diretor de cultura da ARUC, ele é o guia através da história da quase cinquentenária Escola, fundada em 1961.

O nome é Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro, afinal a estrutura de clube de vizinhança é o local que abriga a Escola. Mas a principal atividade da associação, que também tem seu nome ligado ao esporte, é mesmo o samba, que veio antes de tudo.

Ao chegar ao lugar, no Cruzeiro Velho, bem perto da Via EPIA, é possível se deparar, no entanto, com um local visivelmente abandonado. Duas piscinas desativadas são os símbolos de um lugar que, apesar de ter potencial, é mal aproveitado.

Diante dos problemas estruturais, a Escola se agarra no refrão de Nelson Sargento que tantas vezes a acompanhou na avenida: Agoniza, mas não morre.

Rafael explica que o estado precário é fruto de um impasse legal que se prolonga há sete anos e ainda aguarda solução. Ainda assim, a Escola é a única entre as 18 do DF com sede própria.

É na sala de troféus da Associação que fica claro que o forte da ARUC é o ritmo, a alegoria e não o espaço físico. Diante de tanto brilho de troféus, os problemas ficam em segundo plano. São muitos prêmios, entre eles, uma galeria reservada para os mais importantes: a sequencia dos troféus do octacampeonato consecutivo de desfiles, feito conseguido entre 1986 e 1993. A ARUC parece tão imbatível na avenida que a diferença entre ela, primeira colocada no ranking de campeãs, e a Acadêmicos da Asa Norte, que vem logo atrás, é de 26 títulos.

Tanto destaque foi reconhecido publicamente na gestão do governador José Roberto Arruda, quando a Escola de Samba recebeu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Distrito Federal. Por tudo isso, deixar de fora a ARUC ao falar de samba em Brasília seria um descuido quase tão sério como tê-la excluído das comemorações do cinqüentenário da capital. No ano passado, desde o momento das especulações com artistas do exterior até a festa manchada pelos escândalos políticos, em nenhum momento a supercampeã foi lembrada.

Neste ano, nas comemorações do aniversário de 51 anos do próprio Cruzeiro, a ARUC também ficou de fora. A boa notícia é que ao menos o tradicional Reveillón da Esplanada desta vez irá contar com a bateria da Escola de Samba. O que para o diretor de cultura da Associação é uma forma de tentar reparar o erro. Um problema que acontece todo ano e atrapalha o carnaval, segundo Rafael, é a dificuldade para a liberação de verbas do governo. Somado a isso, nos últimos anos a Escola ganhou mais um motivo para ficar insatisfeita: a transferência do carnaval do centro do Plano Piloto para a Ceilândia. Transtornos com deslocamento, desmotivação de pessoal, fracasso de público e falta de estrutura incomodam muito a campeã azul e branco.

Com a palavra, o presidente!

O presidente da ARUC, Moacyr de Oliveira Filho, ou só Moa, está na Escola desde 1987, época em que fazia parte da Ala dos Compositores. Tem muita história pra contar e muitas críticas e sugestões para fazer.

Ainda sobre o Ceilambódromo, ele reclama a ausência de apoio da iniciativa privada, fala da esperança de mudança a partir do carnaval de 2012. E lembra o compromisso assumido pelo recém-eleito governador Agnelo Queiroz sobre a criação de um sambódromo que atenda realmente as expectativas das Escolas.

Para 2011, no entanto, a previsão ainda é de um carnaval restrito, de expressividade bem menor do que o lugar que o abriga: a capital do país. A grande questão, para o presidente, é a ótica das autoridades sobre o carnaval em Brasília. Ele se desaponta ao falar sobre como cidades com muito menos expressão que Brasília são mais organizadas para o evento e cobra uma visão do evento como política pública. Capaz de gerar empregos, renda, atrair turistas e desenvolvimento para as cidades.

Na sala de troféus, o presidente lembra com alegria os títulos que considera mais importantes na história da ARUC e destaca entre tantos primeiros lugares, um vice-campeonato que ficou marcado na história da escola, o do carnaval de 2008.

Fonte: http://www.fac.unb.br/campusonline/esporte/item/776-samba-em-brasilia-e-aruc

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