sábado, 6 de fevereiro de 2016

Texto de Moa: A tristeza pela ausência do desfile


Passei hoje pela ARUC e confesso senti um aperto no peito. Uma tristeza profunda invadiu meu coração. Hoje é sexta-feira de Carnaval e aquele solo sagrado do samba era pra estar fervendo, fervilhando, pulsando forte. O Barracão a todo vapor, correria pra dar os últimos retoques no acabamento dos carros alegóricos. Isaias Mendonça, com aquele mau humor tradicional, reclamando que tá faltando material. Andre Alves de Freitas terminando a pintura das suas esculturas. Jair Soares da Silva, soldando os últimos queijos.Helio Tremendani, apertando as mãos, agitado, mandando Kleber Dias ePedro Gonzalez correrem atrás das últimas compras. Reinaldo Dos Reis Reiscolocando os conduites nas saias das Baianas. Francisco Paulo Do Nascimento trazendo um lanche pra rapasiada. Wellington Vareta agitado esperando anoitecer para mais um ensaio secreto da Comissão de Frente. Na sala da Bateria, Mestre Anderson Chaves Rosa e seus diretores Flavio Vitorino CostaDanielle AlencarLisa Fernanda Gomes de Souza e Marcelo Jorge encorando surdos, repiques e caixas. William Borges com seu 

lotado de passistas e destaques ajeitando os últimos retoques das fantasias.Cleuber Oliveira olhando a Ordem de Desfile e combinando detalhes com a Harmonia. Ana Paula Salim Bastos, enlouquecida, tentando fechar a lista das camisas da Diretoria, Harmonia e Amigos da ARUC. Maria Xereu Claudiaorganizando a distribuição das fantasias para as Alas. Luzia Tremendanivendo os últimos detalhes da fantasia da Jas Oliveira. O presidente Márcio Coutinho, o Careca, e o vice de Carnaval, Dinho Lopes Monteiro Filho, em compromissos em São Paulo, ligando toda hora pra saber das coisas. Mas não tinha nada disso.
A ARUC estava vazia e silenciosa.
E triste, muito triste. 

Essa não é a primeira vez, e provavelmente não será a última, que Brasília fica sem desfile das escolas de samba. Já aconteceu em 1981, 1994, 1995, 2003 e 2015, mas confesso que dessa vez está doendo mais. Está mais triste, mais pesado, mais sofrido.

Não sei se porque a vontade de reconquistar o título, perdido nos últimos três desfiles, era muito grande. Ou se a dúvida sobre o futuro é maior ainda.

Governos e governantes não olham as escolas de samba com a seriedade com que nós da ARUC, por exemplo, tratamos do nosso Carnaval. Não encaram as escolas de samba como um importante investimento na preservação da cultura popular, mas sim como uma despesa incomoda. Parecem aliviados de terem se livrado dela. E as declarações que temos visto de alguns Secretários do GDF, como o de Cultura, por exemplo, não são nada animadoras. Ele parece disposto a se transformar no coveiro das escolas de samba, embora com um discurso aparentemente politicamente correto. 

Daí a tristeza profunda. Maior que das outras vezes. 
Nós da ARUC vamos continuar resistindo, lutando para manter viva a bandeira do samba e do Carnaval, realizando eventos, ensaiando nossa Bateria Ritmo Quente, nossos casais de Mestre -Sala e Porta-Bandeira, nossa Ala de Passistas, nossos intérpretes e nossos sambas. 

E apesar do Secretário Guilherme Reis, confiamos no compromisso assumido pelo governador Rodrigo Rollemberg, num evento no Guará, no final do ano passado, de que iria convocar os dirigentes das escolas de samba para anunciar medidas que garantam a volta dos desfiles em 2017. 

Mais do que confiar, estamos dispostos a liderar, com o peso da nossa história, da nossa tradição, dos nossos 31 títulos e da nossa condição de Patrimônio Cultural Imaterial do DF, uma discussão séria e franca sobre um novo modelo, mais enxuto, para os desfiles. 

E continuamos esperando o chamado do Governador. 
Tanto confiamos que já estou trabalhando numa proposta de enredo para o Carnaval 2017, a ser apresentada à nova Diretoria da ARUC, que será eleita em abril. Um enredo todo em azul e branco para recuperar nossa auto estima. 
Mas enquanto o Governador não nos chama, a incerteza e o medo sobre o futuro falam mais alto.
E o silêncio da ARUC nessa sexta-feira de Carnaval fez as lágrimas rolarem discretamente dos meus olhos e descerem vagarosamente pelo meu rosto.

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