Com o grande sucesso dos blocos de rua mesmo sem verba do governo, as 21 agremiações, que não desfilaram por falta de dinheiro, temem perder espaço na folia candanga e cobram do GDF soluções para 2016
» CAMILA COSTA, do Correio Braziliense, 1º/03/2015
A crise financeira histórica do Distrito Federal não restringiu os cortes apenas aos pagamentos de servidores. Chegou também ao carnaval. Ainda que os blocos tenham superado a falta de dinheiro e feito sucesso inédito nas ruas, com público de 1 milhão de pessoas — segundo a Liga dos Blocos —, as 21 escolas de samba não tiveram a mesma sorte e, por falta de recurso, não colocaram seus carros na avenida. A preocupação, agora, vai além do investimento legal (veja O que diz a lei) previsto para a folia. Presidentes, diretores e representantes das agremiações do DF temem que o desfile não saia mais dos barracões por falta de interesse do governo em resolver, principalmente, as questões burocráticas relacionadas ao carnaval.
No rol das maiores manifestações culturais do mundo, o carnaval não é feito apenas de fantasias, brilhos, confetes e serpentinas. Muita coisa tem que ser organizada para a festa acontecer. E, para isso, é preciso dinheiro. No governo Agnelo Queiroz, foi aprovado o repasse de R$ 6,35 milhões às escolas para o carnaval de 2015. Mas o rombo financeiro diagnosticado durante a transição foi confirmado pela atual gestão, que, na tentativa de conter gastos, não permitiu que a verba fosse liberada. Agora que o carnaval passou, muitos carnavalescos demonstram receio na organização para 2016.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Associação Recreativa Cult"Queríamos que isso já estivesse resolvido. O governo demonstrou a intenção de voltar com os desfiles em 2016, mas, até agora, nenhum secretário se manifestou publicamente de forma afirmativa sobre o assunto. Dois anos sem desfile é decretar a falência" No rol das maiores manifestações culturais do mundo, o carnaval não é feito apenas de fantasias, brilhos, confetes e serpentinas. Muita coisa tem que ser organizada para a festa acontecer. E, para isso, é preciso dinheiro. No governo Agnelo Queiroz, foi aprovado o repasse de R$ 6,35 milhões às escolas para o carnaval de 2015. Mas o rombo financeiro diagnosticado durante a transição foi confirmado pela atual gestão, que, na tentativa de conter gastos, não permitiu que a verba fosse liberada. Agora que o carnaval passou, muitos carnavalescos demonstram receio na organização para 2016.
Hélio dos Santos, presidente do Conselho de Administração da Arucural Unidos do Cruzeiro (Aruc), Hélio dos Santos, as escolas ainda não foram procuradas para se discutir como ficará a próxima festa. Eles se preocupam como será quitada a dívida das agremiações com os prestadores de serviços e fornecedores, contratados no ano passado para executar o desfile de 2015. “Nossa maior preocupação é em relação ao governo tomar uma posição com antecedência porque, se demorar, ficará mais um ano sem carnaval. Queríamos que isso já estivesse resolvido. O governo demonstrou a intenção de voltar com os desfiles em 2016, mas, até agora, nenhum secretário se manifestou publicamente de forma afirmativa sobre o assunto. Dois anos sem desfile é decretar a falência”, avaliou o diretor.
Só em dívida, o carnaval amarga, de acordo com estimativa da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF (Uniesbe), R$ 2 milhões. A Acadêmicos da Asa Norte, por exemplo, soma um passivo de R$ 350 mil. A escola estava com 80% do carnaval prontos. Com a dúvida sobre o futuro da festa, a agremiação afirmou que faz eventos na sede da escola regularmente a fim de arrecadar dinheiro. “Estamos tentando viabilizar a escola. Fazemos eventos, alugamos o espaço, para ver se tapa o buraco que o governo deixou. Estamos com medo, sim, dessa incerteza do governo. A verdade é essa. Eles estão indecisos se farão ou não o desfile”, observou o presidente da Acadêmicos, Robson Farias. Para ele, desestimular os desfiles é começar uma trajetória de fim. “Estarão cravando uma estaca no peito da cultura”, lamentou.
Temor
Este seria o segundo ano da Coruja Serrana, de Sobradinho II, na avenida do samba de Brasília. Atualmente, depois da frustração de não desfilar, integrantes da agremiação tentam administrar outro medo: o de não ser mais importante para o carnaval. Se, mesmo sem dinheiro e sem a participação das 21 escolas de samba do DF, o carnaval foi um sucesso, qual seria a necessidade de o governo continuar investindo nesse lado da folia? “Pode ser que isso enfraqueça o desfile das escolas. Só querem um motivo para não fazerem mais nada. Não deram dinheiro, os blocos foram para a rua, foi tudo um sucesso, todo mundo elogiou. Mas e as escolas? É preciso respeitar as escolas”, declarou o presidente da Coruja Serrana, Rony Pala. “A preocupação é para todos, mas o governo é que precisa resolver”, resumiu o presidente da Aruremas, escola do Recanto das Emas.
Presidente da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF (Uniesbe) e da Águia Imperial, de Ceilândia, Geomar Leite afirmou que a ajuda do governo é fundamental para que as agremiações voltem a desfilar. Segundo ele, o sucesso visto com a saída apenas dos bloquinhos de rua seria o mesmo se as agremiações tivessem desfilado. Para ele, a maior preocupação não é com a perda de lugar no carnaval da cidade, mas, sim, com as garantias de que a folia vai mesmo acontecer. “Estaremos juntos no próximo ano. Os blocos são uma coisa e as escolas de samba, outra. O desfile é um teatro ao ar livre. E o carnaval tem que crescer mesmo. Mas uma coisa é certa: aceitamos as dificuldades num primeiro momento, mas não vamos aceitar num segundo. Vamos garantir o cumprimento da lei”, avisou Leite.
Responsável pelo gerenciamento do carnaval da cidade, a Secretaria de Turismo afirmou que começará a dialogar com as escolas. Ainda não tem data prevista. Porém, segundo o secretário da pasta, Jaime Recena, não há motivo para preocupações. “Uma coisa não tira o brilho da outra. O desfile das escola é importante, tradicional, e não é porque os blocos deram muito certo que isso vai mudar. Uma coisa não tem relação com a outra. Temos que começar a planejar, ver a questão das dívidas contraídas, e o desfile será retomado”, garantiu Recena.
O que diz a Lei
O carnaval brasiliense é garantido pela Lei nº 4.738, de 29 de dezembro de 2011. A regra determina a responsabilidade do GDF em pagar “a infraestrutura, os serviços públicos de apoio e a divulgação necessários à realização do carnaval do Distrito Federal”. A lei esclarece ainda que esses recursos devem ser pagos antecipadamente, em pelo menos três parcelas, às escolas de samba, aos blocos de enredo e aos blocos carnavalescos, para possibilitar a utilização na preparação dos desfiles contratados.
Dívida com fornecedores
A produção de um desfile de escola de samba começa quase um ano antes de as agremiações entrarem no Sambódromo. Em 44 anos de espetáculo, Brasília ficou sem a folia oficial quatro vezes. Apenas em 2015, o motivo foi a falta de verba do Governo do Distrito Federal (GDF). Todo ano, a União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF faz uma carta de crédito com lojas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Brasília para que os grupos possam adiantar o serviço e começar a produzir as fantasias. À medida que as agremiações vão recebendo o dinheiro, a dívida é paga. Como não houve repasse de verba, as linhas de créditos abertas ainda não foram pagas.
Futuro aparentemente mais nebuloso ainda, depois de ler esta notícia: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/03/12/interna_cidadesdf,475171/gdf-vai-liberar-r-500-mil-para-realizacao-de-via-sacra-de-planaltina.shtml
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