sábado, 30 de junho de 2012

Aruc está de luto

 Crônica da Cidade, por Conceição Freitas. Correio Braziliense de 29/06/2012,  p.28.

A campeã das campeãs está de luto. Na madrugada dessa segunda-feira, morreu um de seus personagens mais conhecidos e queridos, ErivaldoMarins, oVardo. Mestre-sala de alguns dos carnavais e ex-goleiro dos times amadores do Cruzeiro,Vardo veio para Brasília ainda menino, em companhia dos pais, servidores públicos transferidos da velha para a nova capital.

O território cruzeirense perdeu a constante presença deVardo, o passista que frequentava a geografia dos boêmios e adoradores do samba: o Bar da Neide, na Feira Permanente; o Cruzeiro Center e a Aruc. Padecendo de problemas cardíacos havia algum tempo,Vardo vinha desfilando com a velha-guarda.

Vardo participou de um dos mais conhecidos episódios da Aruc em seus 50 anos de carnaval. Em 1979, a escola preparou com esmero o enredo Iemanjá, um poema de amor. Percebe-se uma correria aflita na concentração. O mestre-sala Vardo e a porta-bandeira Estela aguardam, ansiosos, pelo estandarte da escola. Um dizia que a bandeira estava com o outro e o outro dizia que estava com um terceiro.

No último minuto, quando já não dava mais tempo para procurar o estandarte, alguém teve a ideia de uma pluma tirada de uma das fantasias e, assim, tentar enganar os jurados. Vardo e Estela entraram na avenida segurando a inusitada alegoria. Na exibição diante do camarote dos juízes, a porta-bandeira entregou ao presidente do júri, Carlos Black, a tal pluma, em desesperada e marota tentativa de fazê-los crer que se tratava de uma inovação da escola. A dupla levou nota zero.

Ainda assim, a Aruc foi vice-campeã. Dias depois, o estandarte apareceu na frente da casa de um dos componentes da escola. O mistério nunca foi desvendado. Por essa e muitas outras, Vardo está na história da escola 31 vezes campeã do carnaval de Brasília. Passista de primeira, ajudava na confecção das alegorias e das fantasias, gostava de uma gelada e criava passarinhos. Morreu aos 60 anos, mas desde menino viveu com o samba no peito, o que quintuplica o tempo vivido. A Aruc decretou luto oficial de três dias.

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